Imagem: Divulgação/Toho
Hoje no CineGourmet vamos falar de uma obra-prima cult que não se parece com nada que você já viu: “Tampopo: Os Brutos Também Comem Lámen”.
Onde Assistir?
- Streaming: MUBI (o filme entra e sai do catálogo, mas é o lugar mais comum para encontrá-lo)
- Aluguel: Apple TV e Google Play
O “Faroeste de Lámen”
Vamos alinhar as expectativas: “Tampopo”, dirigido pelo genial Juzo Itami em 1985, não é um filme comum. O próprio diretor o apelidou de “Ramen Western” (um “faroeste de lámen”, sacou? Em vez de “faroeste espaguete”).
É uma comédia japonesa incrivelmente satírica que usa a estrutura de um filme de faroeste americano para contar uma história sobre… a busca pelo lámen perfeito. É estranho, é engraçado e, acima de tudo, é uma carta de amor obsessiva à comida.
A Busca pela Tigela Perfeita (e mais)
O filme tem duas “partes” que correm ao mesmo tempo:
- A Trama Principal: Dois caminhoneiros, o “cowboy” Goro (um Clint Eastwood do lámen) e seu jovem parceiro Gun, param em um restaurante de lámen caindo aos pedaços, gerenciado pela viúva Tampopo. O lámen dela é sincero, mas muito ruim. Com pena (e muito orgulho culinário), Goro decide se tornar o mentor dela. O filme se torna uma jornada épica, no melhor estilo Rocky Balboa, para criar a tigela de lámen perfeita — desde o caldo até a textura do macarrão.
- As Vingnetas: Enquanto acompanhamos o treinamento de Tampopo, o filme corta o tempo todo, sem aviso, para esquetes (cenas curtas) totalmente aleatórias e surreais sobre a relação humana com a comida.
Tem um gângster yakuza de terno branco e sua amante usando a comida de formas… sensuais (a cena da gema de ovo é lendária); tem uma aula de etiqueta sobre como comer espaguete sem fazer barulho; tem um grupo de velhinhas que invadem um supermercado só para apertar as frutas; e tem até uma cena comovente de uma mãe que se levanta do leito de morte para fazer o jantar da família.
Uma Receita Anárquica
- Roteiro: O roteiro de Juzo Itami é uma anarquia deliciosa. Ele não está nem aí para a estrutura tradicional. A trama de Tampopo é só um fio condutor para Itami explorar dezenas de crônicas sobre como a comida afeta nossas vidas, nosso status social, nosso sexo e até nossa morte. É uma sátira brilhante sobre a obsessão japonesa (e humana) por rituais gastronômicos.
- Atuações: O elenco é perfeito para o tom cômico e absurdo. Nobuko Miyamoto (esposa do diretor) é fantástica como Tampopo, a heroína insegura que se transforma em uma mestra do lámen. Tsutomu Yamazaki (Goro) é o “macho” perfeito do faroeste, sábio e durão. Mas quem rouba a cena é Kōji Yakusho como o gângster de branco, protagonizando as cenas mais bizarras e famosas do filme.
- Direção e Cinematografia: A direção é divertida. Itami sabe exatamente quando usar um close-up extremo em um pedaço de carne de porco cozinhando ou na textura de um caldo. A cena de abertura, onde um “mestre” discursa sobre o jeito certo de apreciar o lámen (pedir desculpas ao porco, acariciar o chashu…) é uma das melhores introduções de filme que existem. A estética de faroeste é usada para rir (tem até uma “cena de briga” no restaurante).
- Trilha Sonora e Edição: O uso de música clássica (Mahler, por exemplo) em cenas sobre macarrão dá um tom épico e hilário à obsessão dos personagens. A edição é o que faz o filme ser o que é, pulando de uma história para outra com uma energia caótica, mas sempre conectada pelo tema da comida.
Por que “Tampopo” é Genial
Como seu amigo aqui do “CineGourmet”, eu digo: Tampopo é um dos filmes de comida mais divertidos que existem. Ele não tem a seriedade de A Festa de Babette nem a tensão de Pegando Fogo.
Ele celebra a comida em todos os seus aspectos: o sagrado (a busca pela perfeição), o ridículo (as regras de etiqueta), o sensual (o gângster) e o comunitário (o treinamento de Tampopo). É um filme que entende que a comida é, ao mesmo tempo, a coisa mais importante do mundo e a coisa mais engraçada do mundo.
Um Cult Essencial (e Estranho)
Tampopo é uma explosão de criatividade. É um filme único, que influenciou chefs e cineastas por décadas.
- Pontos Fortes: É hilário, original e incrivelmente criativo. A fotografia da comida (especialmente do lámen) é uma tortura de tão boa. É um filme que te deixa feliz.
- Pontos Fracos: Se você odeia filmes sem uma história linear, pode ficar confuso. E, sim, é bem estranho em alguns momentos (o que, para mim, é um ponto fortíssimo!).
Vale a pena ser assistido? É OBRIGATÓRIO! Especialmente para quem ama comida japonesa, filmes cult ou comédias que fogem do óbvio.
Aviso de amigo: Eu não estou brincando. NÃO assista a este filme de estômago vazio. É uma crueldade. Tenha o número do seu restaurante de lámen favorito à mão. Você vai precisar.