Resenha “A Festa de Babette”: O Jantar Mais Importante da História do Cinema

Resenha "A Festa de Babette" (1987). Uma chef gasta sua fortuna em um banquete que transforma uma vila puritana. O maior filme de gastronomia já feito....
Filme a festa de babette

Imagem: Divulgação/Panorama Film

Onde Assistir?

  • Streaming: Belas Artes à La Carte
  • Aluguel: Apple TV e Google Play

Vou ser muito sincero com você: este não é um filme “divertido” como Chef ou uma comédia romântica como Sem Reservas. Este é, talvez, o filme mais importante e profundo da nossa lista. É “cinema de arte” da melhor qualidade, e é considerado por muitos chefs famosos o maior filme de culinária de todos os tempos.

Prepare-se para uma experiência diferente no CineGourmet.

O Filme que Define “Comida como Arte”

Hoje vamos falar de um clássico absoluto: “A Festa de Babette” (Babette’s Gæstebud), um filme dinamarquês de 1987, dirigido por Gabriel Axel. Ele não apenas ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, como basicamente criou o gênero de filme de gastronomia sério.

Este é um drama lento, profundo e austero que, nos seus 30 minutos finais, se transforma em uma das celebrações mais puras e emocionantes do poder da comida que o cinema já viu.

Quando um Banquete se Torna Divino

A história se passa em um vilarejo minúsculo e isolado na Dinamarca, no século XIX. A comunidade é liderada por duas irmãs idosas, Martine e Philippa, filhas de um pastor rigorosíssimo que fundou uma seita puritana. A vida deles é cinzenta, cheia de regras, sem cor, sem música e, principalmente, sem nenhum prazer sensorial.

Um dia, chega Babette (Stéphane Audran), uma mulher misteriosa fugindo da guerra na França. Ela implora por abrigo e se oferece para trabalhar como faxineira e cozinheira em troca de nada. Por 14 anos, ela vive ali, servindo o mingau e o pão seco que eles comem. Até que uma carta de Paris informa: Babette ganhou 10.000 francos de ouro na loteria.

Em vez de ir embora, ela faz um único pedido às irmãs: deixá-la preparar um verdadeiro jantar francês para elas e para a pequena congregação.

Uma Refeição Lenta e Perfeita

  • Roteiro: O roteiro, baseado em um conto de Karen Blixen (a mesma de Entre Dois Mundos), é uma obra de paciência. Os primeiros 70 minutos do filme são intencionalmente lentos, silenciosos e frios. Você sente a austeridade daquele lugar. O roteiro nos mostra a vida sem graça que eles levam, para que o impacto do banquete seja ainda mais forte. A transformação dos personagens à mesa é uma das coisas mais lindas já escritas: velhos inimigos fazem as pazes, amores perdidos são lembrados, e a alegria (um pecado para eles) entra na sala.
  • Atuações: Stéphane Audran como Babette é o centro silencioso e magnético do filme. Ela fala pouco, mas seus olhos transmitem toda a paixão e a tragédia de uma grande artista exilada. As atrizes que fazem as irmãs são perfeitas em sua devoção frágil. Mas o destaque vai para os convidados do jantar, que, tendo jurado não sentir prazer na comida (para não pecar!), acabam sendo transformados por ela sem nem perceber.
  • Direção e Cinematografia: A direção de Gabriel Axel é magistral. A fotografia é genial: a primeira parte do filme é filmada em tons de cinza, azul e marrom, tudo é pálido e frio. Quando os ingredientes do banquete chegam (tartarugas vivas, codornas, frutas exóticas e muito vinho), o filme explode em cores quentes. A câmera filma a comida com uma reverência quase religiosa. A preparação e o serviço do jantar são tratados como um ritual sagrado.
  • Trilha Sonora e Edição: O silêncio é a trilha sonora principal na maior parte do filme, interrompido apenas por hinos religiosos melancólicos. Isso faz com que os sons da festa — o tilintar das taças de cristal, o barulho do vinho sendo servido, as risadas — soem como a música mais celestial do mundo.

A Comida como um Ato de Graça Divina

Eu vou ser 100% sincero com você, meu amigo: A Festa de Babette é um filme que me emociona profundamente. Ele não é sobre o sabor da comida, é sobre o gesto.

Babette, que descobrimos ser uma chef lendária do Café Anglais em Paris, gasta toda a sua fortuna em uma única noite. Ela não faz isso para impressionar, pois sabe que aquelas pessoas simples nem entendem o que estão comendo. Ela faz isso porque é uma artista, e um artista não guarda sua arte para si.

O filme é uma metáfora poderosa sobre arte, sacrifício e generosidade. Babette oferece àquela comunidade o melhor de si, sua arte máxima, e ao fazer isso, ela lhes dá uma noite de “graça divina” — um vislumbre do paraíso através do prazer, algo que a religião rígida deles nunca permitiu.

Uma Obra-Prima Essencial

A Festa de Babette é um filme que exige paciência, mas que te recompensa de uma forma que poucos filmes conseguem.

  • Pontos Fortes: O banquete final é uma das sequências mais perfeitas e significativas da história do cinema. A mensagem profunda sobre o poder transformador da arte. A cinematografia impecável.
  • Pontos Fracos: O ritmo é extremamente lento e deliberado. Se você não entrar no clima, pode achar os primeiros 60 minutos muito parados.

Vale a pena ser assistido? É obrigatório para qualquer pessoa que leve gastronomia a sério.

Este filme não é para uma noite divertida de “filme + pizza”. É para ser degustado numa noite em que você queira pensar sobre a vida e sobre por que cozinhar pode ser um dos maiores atos de amor que existem.

Veja também

Resenha "Tampopo" (1985), o cult clássico japonês! Um "Ramen Western" sobre a busca pelo lámen perfeito. O filme mais divertido...
Resenha "Comer Rezar Amar" (2010). A jornada de Julia Roberts pela Itália, Índia e Bali em busca de si mesma....
Resenha "Sem Reservas" (2007). Uma chef controladora (Catherine Zeta-Jones) vê sua vida mudar com a chegada da sobrinha e de...

melhores Receitas

Receitas e Dicas todo dia

Receba receitas novas em primeira mão.