Imagem: Divulgação/DreamWorks Pictures
Se você, como eu, acha que comida é sinônimo de família, afeto e (às vezes) uma boa briga, então você precisa assistir “A 100 Passos de um Sonho” (no original, The Hundred-Foot Journey). Lançado em 2014 e dirigido por Lasse Hallström (sim, o mesmo de Chocolate!), este filme é um prato cheio, produzido por ninguém menos que Steven Spielberg e Oprah Winfrey. Precisa de mais?
Uma Batalha Culinária na França
Este filme é o comfort food perfeito. É uma comédia dramática leve, charmosa, que coloca dois mundos (e duas cozinhas) em rota de colisão. De um lado, a tradição rígida da alta gastronomia francesa. Do outro, o calor, as especiarias e a “bagunça” da culinária indiana. E tudo isso acontece em uma cidadezinha pitoresca no sul da França, onde a distância entre esses dois mundos é de… literalmente, 100 passos.
A Receita da Rivalidade (e da Fusão)
A história começa com a família Kadam, liderada pelo teimoso e carismático “Papa” (Om Puri), que é forçada a fugir da Índia após uma tragédia. Eles vão parar (depois de algumas desventuras) nessa pequena vila francesa. Papa, um cozinheiro orgulhoso, decide abrir seu restaurante indiano, o “Maison Mumbai”.
O problema? Ele escolhe o local exatamente em frente ao “Le Saule Pleureur”, um renomado restaurante com uma estrela Michelin, comandado pela intimidadora e esnobe Madame Mallory (a rainha Helen Mirren). O que começa como uma guerra cultural e culinária — com direito a música alta e sabotagem de ingredientes — logo se transforma em uma história sobre respeito, fusão e a descoberta de um talento brilhante: o jovem chef Hassan (Manish Dayal), filho de Papa.
Análise Crítica: Os Sabores do Filme
- Roteiro: O roteiro é uma delícia. É uma história clássica de “choque de culturas” e “peixe fora d’água”, mas é contada com uma sensibilidade enorme. A transformação da rivalidade entre Papa Kadam e Madame Mallory em respeito mútuo é o pilar do filme. A jornada de Hassan, de cozinheiro de rua talentoso a mestre da haute cuisine, é inspiradora. É previsível? Sim. Mas você não assiste a esse filme pela surpresa; você assiste pelo conforto.
- Atuações: O elenco é o tempero principal. Helen Mirren está impecável, como sempre. Ela começa como a personificação da arrogância francesa, mas lentamente revela uma mulher solitária e apaixonada por sua arte. Om Puri (em um de seus últimos grandes papéis) é o contraponto perfeito; ele é barulhento, orgulhoso e hilário. Mas a química entre os dois veteranos é o que rouba a cena. Manish Dayal (Hassan) e Charlotte Le Bon (Marguerite, a sous-chef francesa) formam um casal adorável.
- Direção e Cinematografia: É um filme de Lasse Hallström, então você já sabe o que esperar: beleza! A fotografia é deslumbrante. O sul da França é filmado com uma luz dourada, os mercados são cheios de cor, e os pratos… ah, os pratos. A comida é filmada de um jeito que você sente o cheiro do curry e a textura do molho béarnaise. A câmera trata a comida indiana (vibrante) e a francesa (elegante) com o mesmo respeito e beleza.
- Trilha Sonora e Edição: A trilha sonora de A.R. Rahman (o mesmo de Quem Quer Ser um Milionário?) é perfeita, misturando os sons vibrantes da Índia com a elegância da música clássica francesa. A edição flui suavemente, fazendo a transição entre as duas cozinhas de forma muito orgânica.
Mais que Comida, uma Lição de Respeito
O que eu mais amo em A 100 Passos de um Sonho é a mensagem dele. O filme começa com uma guerra, com preconceito (de ambos os lados!), mas nos mostra que a comida tem o poder de derrubar muros.
Não se trata de uma culinária ser “melhor” que a outra, mas de como elas podem aprender e se enriquecer mutuamente. A cena em que Hassan “corrige” um molho clássico francês usando especiarias indianas é o coração do filme. É a prova de que a tradição é maravilhosa, mas a inovação (e a mente aberta) é o que cria o futuro da gastronomia. É um filme sobre como “a comida abre janelas para outras culturas”.
Um Banquete para os Olhos e a Alma
Este é um daqueles filmes que termina e você está com um sorriso bobo no rosto. É gentil, bonito e profundamente otimista.
- Pontos Fortes: A química fantástica entre Helen Mirren e Om Puri; a fotografia espetacular da comida e da paisagem francesa; e uma mensagem linda sobre fusão cultural.
- Pontos Fracos: O roteiro é bem previsível e segue a “fórmula” de filmes de conforto, sem grandes reviravoltas. Mas, francamente, quem se importa?
Vale a pena ser assistido? Absolutamente! É o filme perfeito para assistir com a família, num domingo à tarde, ou quando você só quer ver algo que te faça sentir bem com o mundo.
Aviso de amigo: É impossível assistir a este filme e não ficar com vontade de comer comida indiana ou francesa. Minha dica? Tenha os ingredientes para um omelete (você vai entender!) ou peça um bom frango tikka masala.